Lema

40 Anos a Desfazer Opinião

segunda-feira, 5 de outubro de 2015

Good Fellas -'Fella's Cut'

Como pensava que o período de reflexão ainda não tinha terminado, pego num jornal -em busca de 'food for thought'- e, em vez disso leio: "Se tivesse conhecido a guitarra portuguesa mais cedo,...". Não sou capaz de ler mais e eu, que sempre gostei dos Led Zeppelin, não consigo evitar que alguns quadros do Apocalipse venham por aí acima até ao meu último andar.

Explico (e, com isto, estejam certos de que também exemplifico): gostavam de ir um dia destes, pela rua abaixo, de rádio ligado, regalando-se ao som do tema de "Verdes Anos", da autoria e na interpretação de Carlos Paredes e de, findo o tema, serem varridos -como por uma rajada de metralhadora- pela voz mais vitorianamente colocada que se possa imaginar, anunciando que estivemos ao 'wonderful sound' de "Green Acres", lado A e a mais recente composição da 'notável parceria' Plant e Page?

Começamos por abanar a telefonia, na esperança de que tenha sido um mau contacto ou escassez de potência das pilhas; em seguida, abanamos cabeça, espírito e convicções, enquanto certas impressões do passado -nunca esclarecidas- voltam para nos assombrar mas também para se deixarem banhar por uma luz que não conheciam (a da Verdade); e, por fim, caímos, na realidade, e ouvimos a canção que mais e melhor aprenderamos a amar, do suposto 'cancioneiro' de Robert Plant e Jimmy Page, gravada, ainda antes, de haver, sequer, Yardbirds, naquilo que a voz de Joan Baez já espalhava por onde quer que fosse como a sua prova pessoal de suprema admiração por uma bela canção escrita por outrem, no final dos anos 50.

Volvido muito pouco tempo, já dispomos de provas irrefutáveis -porque todas elas documentadas- de que 9 de cada 10 peças assinadas por Plant & Page são outros tantos tristes exercícios na Arte do Furto, aos quais apenas os músicos defendidos, à partida, por fortes e/ou experientes advogados, lograram escapar. Um dia, quando ainda acordamos a pensar "que raio de pesadelo havia de ter esta noite" e -café da manhã já tomado- compreendemos que nenhum outro sonho tivemos que o de nova 'goleada' sobre o 'clube rival de sempre', alguém nos recomenda que vejamos os diversos documentários disponíveis no YouTube sobre a matéria: os Led Zeppelin como 'rip-off artists'. Ver um, apenas, chega para arrumar o assunto de vez e, de caminho, compreender a falsidade hipócrita e despudorada 'das lágrimas' dos visados durante a recente homenagem a "Stairway To Heaven", um 'servicinho' perfeito e completo, ao qual nem a 'genial' introdução escapou.

Fico muito feliz por que Page só agora tenha reparado na guitarra portuguesa (cujas variedade e riqueza de desenlaces musicais- mais tarde ou mais cedo- poderão valer-lhe a cobiçada distinção de 'Património Imaterial da Humanidade'). Se as pessoas que apreciam os seus dotes artísticos tiverem a coragem necessária de ver um só desses documentários e souberem evitar o tradicional 'esconder a cabeça na areia', talvez tenhamos aprendido a viver num mundo mais verdadeiro, sem qualquer sacrifício de prazer: gostamos tanto de música como outrora, com a 'ligeira' diferença de que saberemos 'chamar os boys pelos nomes', o que implica saber quem deve ser felicitado e a quem -episodicamente- deveremos reconhecer capacidades de transformação da identidade estética do 'bem objecto de saque'.

Continuo a gostar muito dos Led Zep: melhor 'cover band' da História da música popular da Idade Moderna.

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