Reduzir o saxofonista à condição de 'inventor e esteta do free jazz' será o mesmo que consagrar Hitchcock como 'rei do suspense', sem grande importância atribuir ao facto de que -da culpa ao sexo e da seta apontada ao coração da hipocrisia puritana ao peso das aparências numa sociedade onde já se perdia a noção de verdade- uma boa vintena de aspectos se afirmam de forma mais peremptória para definir silhueta e conteúdo de uma obra.
Motivos não faltam para admirar Ornette; mas nada de mais crucial se lhe terá ficado a dever que a reinvenção dos blues em contexto pós-bop e seu apetrechamento para um previsível futuro em constante mutação.
Count Basie, Duke Ellington, Miles Davis, Captain Beefheart e Tom Waits foram -como ele- os estetas mais aptos a compreender em que momento um idioma de idade avançada -como um ser humano- necessita de sangue novo para subsistir e permanecer útil ao mundo. Aliás, mas numa perspectiva mais vasta, Ornette terá sido -a par de Beefheart, Miles, Macero, Joe Meek, Hendrix, Brown e Sly Stone- o músico mais, genuinamente, moderno da década de 60. Embora fruto do acaso e prova dos caprichos da música, queiram descobrir -em jeito de "Onde Está Wally?"- onde foi Ian Dury desencantar o refrão de "Sex & Drugs & Rock'N'Roll"? Conselho: mantenham Charlie Haden debaixo de olho...
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