Lema

40 Anos a Desfazer Opinião

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

More Songs About Robalos e Douradas In A Sea Of Sharks

Dois docs notáveis. Cada um à sua maneira. Um falado na nossa língua, envolvendo figuras e situações familiares do 'português medianamente informado' (como Caetano Veloso, de visita ao Zip-Zip, em breve escala técnica rumo ao exílio londrino, sentado entre Carlos Cruz e Fialho Gouveia, procurando não rebentar a rir à pergunta 'oh Caetano, explique lá o que é isso de tropicalismo', formulada com o mesmo ar com que se teria perguntado a Chubby Checker como se dançava o twist), revelando 'cenas de pasmar', mantidas, até agora, longe do 'grande público' (como, por fim, imagens da lendária manifestação antitropicalismo, na qual Elis Regina surge, à cabeça, empunhando o cartaz 'morte ao imperialismo, abaixo a guitarra eléctrica' -ou o contrário...) e fazendo luz, muita luz, sobre a natureza e não-objectivos de um movimento crucial para a História da música pop, em particular, e do séc.XX, em geral; o segundo, falado em inglês da África do Sul, sobre a portentosa história de um pequeno génio da música norte-americana dos anos 70 (Rodriguez), por cuja existência ninguém deu nos Estados Unidos e que, por isso, estava longe de suspeitar do desfrute de uma posição logo a seguir aos Beatles e de enorme destaque sobre Elvis Presley, em matéria de notoriedade, na pátria de Mandela. Dizer que seria conhecido por 10 pessoas em Portugal já soa como um descabelado exagero. A pergunta -quase em registo de Tempo-Extra- é esta: diga que tipo de peixe acha que estava no lugar certo à hora certa para impedir a concretização do interesse na exibição nacional manifestado por algumas pessoas, junto do próprio realizador, quando da única exibição do primeiro filme em Lisboa (integrado numa mostra, no cinema São Jorge), e para garantir a exibição do segundo por estritas razões de integração na cadeia industrial planetária? Ambos são fontes de sabedoria, vestindo as cores refinadas do melhor entretenimento, e estudos sérios do facto musical, sob duas perspectivas: respectivamente, peça de uma complexa maquinaria -apesar de concebida ao sabor dos acontecimentos- orientada no sentido da ruptura com a 'velha ordem' e da fundação da 'nova'; e lugar privilegiado de manifestação da circunstância aleatória dotada de intensidade suficiente para mudar o rumo da História e/ou desencadear fenómenos e acções tão insólitos como os descritos no segundo filme. O primeiro chama-se Tropicália, foi realizado por Marcelo Machado, e, no dia da estreia nas salas londrinas, foi editado, em DVD, pela Mr. Bongo; o segundo chama-se Searching For Sugar Man, foi realizado por Malik Bendjelloul, e foi editado, em DVD, na origem, com os modestos dizeres 'The Film Of The Year' colados ao título, pela Studiocanal.

2 comentários:

  1. Caro Ricardo Saló
    Vi o Tropicália em Dezembro passado na abertura do “16º festival de cinema luso-brasileiro” http://www.cineclubedafeira.net/festival/index.php/category/sessao-de-abertura/
    em gloriosa cópia de 35mm. Nesse dia o Director do Festival disse-me que o filme foi comprado por um agente internacional, por isso, é proibitivo pensar nele para distribuir por cá, como era intenção dele. Filme a merecer ser visto em conjunto com “uma noite em 67” http://youtu.be/PBccX21GlQE e talvez com “Filhos de João - o admirável mundo novo baiano?” um filme que não conheço. Este verão, mão amiga chegada do Brasil deixou-me em casa os DVD dos 2 primeiros filmes. Para juntar ao “Verdade Tropical” do Caetano e à compilação da Soul Jazz…
    O Searching For Sugar Man teve estreia em sala (distribuído pela excelente Alambique Filmes http://alambique.pt/filme/a-procura-de-sugar-man ) e está disponível para marcação para qualquer exibidor ( infelizmente só nos formatos DCP, Blue Ray ou DVD) e, principalmente, os Cineclubes deviam exibir o filme. Por exemplo, o Cineclube de Guimarães programou-o para o Grande Auditório do CCVF a 13 de Outubro.
    Cumprimentos
    Manuel Carvalho

    ResponderEliminar
  2. Caro Manuel: muito obrigado pelos seus valiosíssimos esclarecimentos. E também por me dar conta (a mim e a todos quantos frequentam este blogue) da existência dessas outras pérolas em filme. E o meu sincero pedido de desculpas à Alambique Filmes, pelo 'imundo papel' que lhe coube -por deficiente informação da minha parte- nesta 'metáfora marítima' (e, de facto, em ambas as histórias, há um 'oceano de ignorância' que lhes dá redobrado sentido...

    ResponderEliminar