Lema

40 Anos a Desfazer Opinião

domingo, 8 de setembro de 2013

De Colombo A Columbo (mergulho em profundidade)


Levaria a sério se alguém lhe dissesse que o mais baixo da condição humana -qual singular ‘efeito borboleta’- havia de dar origem a uma nobilíssima e refinada manifestação espiritual de representantes mais tardios da mesma espécie?

Ou -na mesma linha de pensamento- que dificilmente teria havido blues (bem como ‘canções de trabalho’) sem a dureza infligida sobre os princípios básicos da natureza humana que regia o trabalho do assalariado negro?

Só esta ideia -e, em particular, a mobilidade da mão-de-obra- já lhe sugere por que razão a guitarra do ‘bluesman’ personificava a mulher ausente e que reflexo existencialista fez brilhar, na noite de São Francisco, “The Dock Of The Bay”, de Otis Redding? Óptimo.

E sabia que o primeiro género genuíno de música americana nasceu quando um negro procurava, na calada da noite, reproduzir numa pianola os sons de banjo que os brancos lhe faziam chegar aos ouvidos durante o dia?

Ou que o fim de uma guerra possa ter estado na origem do jazz de Nova Orleães?

Ou que não será tão absurdo como parece que o grande êxito da Grande Depressão de 1929 tenha sido uma canção chamada “Life Is Just A Bowl Of  Cherries”?

E gostaria de saber como uma linguagem tão marcante como o swing teve a mesma sorte -em menos tempo- que os dinossauros?

Ou que não há contrariedade que detenha o engenho humano, pelo que esse fim também marcou o começo do processo que conduziria ao advento do rock’n’roll?

Sabe, decerto, porque viajavam Booker T. & The M.G.’s separados no autocarro para casa (os dois brancos à frente e os dois negros atrás) depois de um dia de trabalho conjunto em estúdio. Mas faz uma ideia do motivo que explica que o ‘grande caldeirão’ musical e, nessa medida, o berço da música norte-americana dos nossos dias tenha sido a Luisiana, e não o Arkansas, a Virginia ou Washington?

E há, ainda, a ‘verdade dos factos’ e a ‘verdade de facto’: estaria errado quem admitiu, certo dia, a sua convicção de que os Beatles eram ingleses e os Rolling Stones americanos?

Vamos procurar saber tudo isto, e muito mais, e, assim, tentar decobrir em conjunto de onde vem a música que se ouve de cada vez que se liga o rádio. Quem se portar bem ficará, ainda, a conhecer o significado original da emblemática palavra ‘mojo’...

E, no entanto, sem abdicar da ideia central de que venha a haver mais motivos para rir que para chorar, ninguém deverá partir para este workshop sem a noção básica de que foram necessários séculos de sangue, suor e lágrimas para se conseguir o mesmo resultado que, hoje, se obtém mediante um clique de rato de computador.
Para que não fiquem dúvidas sobre a seriedade da ‘empreitada’, eis um exemplo aproximado do espírito que se pretende incutir no ‘workshop’.

11 comentários:

  1. Boa tarde,

    presumo que seja o workshop promovido pela (ainda) Junta de Freguesia dos Anjos.

    Estou muito interessado em participar mas o horário proposto não me convém (outras ocupações à 6ªf à noite...).

    Já contactei a Junta no sentido de averiguar da sua (?) disponibilidade para animar o workshop noutro dia...

    Cumprimentos,
    Américo Baptista

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Caro Américo: antes de mais, grato pelo seu interesse. Na verdade, mesmo sendo este o dia mais problemático da semana, não existe a menor hipótese de proceder a uma alteração dessa natureza na fase actual do processo. Quanto a uma eventual solução, remeto-o para a minha resposta à mensagem de Fátima Tomé (aqui, já a seguir à sua mensagem).
      Cumprimentos
      Ricardo Saló

      Eliminar
    2. Caro Ricardo,

      Obrigado pela resposta.

      Resta-me então aguardar pela 2ª edição do workshop, que espero aconteça o quanto antes.

      Já agora: porque não partilhar neste blog o que vai "habitando" por estes dias o seu gira-discos/cd em matéria de novas edições ?

      Cumprimentos,
      Américo Baptista

      Eliminar
  2. Bom dia,
    Eu estou muito interessada no workshop mas o horário proposto é incomportável para mim. No caso de as inscrições excederem as expectativas, consideraria a possibilidade de criar mais um horário? das 20h às 22H, por exemplo?
    De qualquer forma, muitos parabéns pela iniciativa :-)
    Cumprimentos,
    Fátima Tomé

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Cara Fátima: considero essa hipótese sem a menor dúvida. Talvez não fosse má ideia tomar a iniciativa de manifestar o seu interesse junto de Ana de Sousa, do Espaço Activo da Junta (onde tudo se vai passar), e tentar fazer uma reserva, a qual teria, naturalmente, um carácter informal e provisório. Obrigado pelas suas palavras e pelo interesse.
      Cumprimentos
      Ricardo Saló

      Eliminar
  3. E então para quem vive em Amarante...!
    Espero acompanhar por aqui um resumo da matéria dada.

    Manuel Carvalho

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Caro Manuel: será pouco praticável reproduzir aqui a matéria dada e, mais ainda, o previsível 'motim' da segunda metade de cada sessão, mais virada para a 'jam session' de ideias ('brainstorm' é para executivos sem ideias, que precisam de se reunir na esperança de produzir um 11/9 interno...). Mas, se assim o desejar, pode, sempre, averiguar se há um número suficiente de 'almas' que justificasse a minha deslocação semanal, durante dois meses, a Amarante. Regra geral, as Câmaras vêem com bons olhos este tipo de iniciativas (sobretudo se tiverem acabado de tomar posse) e possuem um bom aparelho logístico para suportar este tipo de deslocações e a inevitável permanência por uma noite. Esteja à vontade para avançar, caso tenha disponibilidade para isso. Vontade, já vi que não lhe falta. Boa sorte.
      Cumprimentos
      Ricardo Saló

      Eliminar
    2. Caro Ricardo Saló,
      Como já deixei aqui registado, leio o que escreve desde que aprendi a ler (ok, exagero um pouco). Ouço os seus programas de rádio desde as Noites de Luar ( excepto o período XFM por razões óbvias).
      Em Amarante? Pensei logo nisso.
      Desde 1995 um grupo de cinéfilos ( de que faço parte) conseguiu aguentar, ininterruptamente, um Cineclube (só exibimos em película o quer dizer que nos resta pouco tempo de vida!) e convidamos vários realizadores para apresentar os seus filmes ( alguns sem estreia comercial) e disponibilizarem-se para uma conversa final ( tá bem, e beber um copo) sobre o que vimos e, principalmente, sobre o que nos apetecer.
      O que quero dizer com isto? Que preferia pensar numa ideia à volta do Cinema (e a relação com a música) o que nos permitia ter outra liberdade e autonomia. A sala de cinema não tem grandes condições para além da projecção de filmes, mas ainda assim justifica pensar no assunto.O orçamento também é importante (honorários, deslocações, estadas e nós fazemos gala de receber bem os convidados) para viabilizar a ideia. Sem stress.
      Dito isto, verei com o executivo camarário que sair das próximas eleições (se me receberem!), a possibilidade de fazermos um programa como sugere. Vai ser difícil, presumo, encontrar um número suficiente de “almas” para “vender” a ideia. Prometo empenho.
      Vamos falando. Boa sorte e espero que regresse rapidamente à imprensa escrita. O meu café de sábado de manhã já não me sabe ao mesmo.
      Cumprimentos
      Manuel Carvalho

      Eliminar
    3. Caro Manuel: obrigado pela abertura que revela, dentro de uma manifestação de interesse que já era merecedora do meu respeito. É isso: vamos falando. Para além da questão da desejável iminência do workshop, tenho outros assuntos para resolver de imediato, todos eles -escusado será dizer- relacionados com a definição do meu futuro próximo. Julgo que poderemos 'partir pedra' e criar, em conjunto, uma ideia, nas coordenadas música/cinema, que justifique a realização de uma iniciativa interessante. Aí, a última palavra será, sempre, sua. Para já, repito, é isso: vamos falando e... pensando. Quanto ao resto, acho que sim: recebem-no de certeza, não sendo isto sinónimo de que sintam qualquer aliciante (que não um eventual 'prestígio') numa iniciativa do tipo do workshop -a qual, admito, pode ser trabalhada de muitas maneiras e em múltiplas direcções. Um abraço e mantenhamos, então, a comunicação.

      Eliminar
  4. tem alguma ideia, projecto, de o poder trazer ao Porto?

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Caro Paulo: remeto-o para a minha resposta a Manuel Carvalho, de Amarante. Quanto a outras ideias ou outros projectos, preciso de sentir a cabeça mais livre, depois de ver garantida a viabilidade deste primeiro workshop em Lisboa. Não me importo -caso corra bem- de entrar numa lógica de 'Buffalo Bill's Wild West Circus'; mas talvez seja mais aliciante apostar na diversidade de ideias. Caso tenha alguma que gostasse de ver concretizada (e para a qual lhe pareça que existe um interesse mais alargado), não hesite em manifestar-se. Obrigado pelo interesse.
      Cumprimentos
      Ricardo Saló

      Eliminar